A eliminação na Libertadores ressuscita um roteiro repetido no Flamengo. Em momentos de crise no futebol, a diretoria se retira do centro das atenções, e nos bastidores ocorre um choque velado entre elenco e treinador. O responsável por conduzir isso é Marcos Braz, um dirigente amador que, apesar de responder ao presidente Rodolfo Landim, exerce um papel fundamental na principal e mais rica área do clube. Essa estrutura, embora amadora em termos de gestão, ignora a hierarquia convencional. Segundo informações do jornalista Diogo Dantas, do jornal O Globo, os jogadores não veem seus superiores como líderes ou chefes, uma vez que eles não se comportam como tal no dia a dia. O diretor Bruno Spindel atua como um negociador astuto e um torcedor fervoroso durante os jogos. Os gerentes Fabinho e Juan, ambos ex-jogadores, têm uma função de facilitar o diálogo com o elenco.
Na prática, a cobrança, o desgaste e o desconforto recaem quase exclusivamente sobre o treinador, ou ocasionalmente sobre as torcidas organizadas que aparecem estrategicamente para manifestar hostilidade, como no episódio do desembarque da equipe após a eliminação no Paraguai. Sampaoli, curiosamente, foi um dos menos atacados. O presidente do Flamengo, Rodolfo Landim inclusive optou por se esquivar e aguardar os protestos antes de se retirar no desembarque. Como ninguém mais se apresenta para dar explicações, a atenção se volta para o técnico.
Desde a era de Jorge Jesus, o Flamengo tem optado por contratar um perfil de profissional para terceirizar a gestão de pessoas e crises. Nesse cenário, Braz perdeu o comando há algum tempo e alterna entre momentos de desgaste com a torcida e outros de glória devido aos títulos recentemente conquistados em campo, graças a grandes investimentos e a uma administração financeira competente do clube.
Para que esse ciclo vicioso persista, é necessário encontrar outro culpado para justificar o fracasso de um elenco milionário. E, quase sempre, o elo mais fraco é o treinador. A alta multa rescisória se torna um efeito colateral. Se o desejo for remover Sampaoli, seriam necessários R$ 15 milhões, um montante que pouco afetaria a receita bilionária. A diretriz de Landim e, por consequência, de Braz, é seguir adiante, esperando que os jogos da Copa do Brasil possam proporcionar algum alívio em uma temporada que parece estar perdida.