Wallim Vasconcellos estreia coluna no DIÁRIO DO FLA: ‘Falar de bola e finanças não é para amadores’

'Análise bem embasada ajuda o torcedor a entender melhor a situação vivida pelo seu clube e a estabelecer uma opinião sobre o acerto ou não das medidas adotadas pela gestão'

Foto: Divulgação/Flamengo

Em primeiro lugar, quero agradecer o convite para escrever uma coluna no DIÁRIO DO FLA. Será uma experiência nova para mim e o farei pelo menos uma vez por mês. O objetivo é escrever sobre assuntos ligados ao esporte, especialmente à gestão e finanças, não necessariamente envolvendo o Flamengo.

Neste primeiro artigo, quero abordar a relevante influência dos jornalistas esportivos e o impacto de suas opiniões na gestão de grande parte dos clubes brasileiros, tanto financeira quanto esportivamente, bem como na opinião dos torcedores.

Desde a infância, sempre acompanhei os programas (ou resenhas) esportivos, principalmente pelo rádio. Ouvia, atentamente, as notícias sobre os clubes, sendo as do Flamengo as que mais me prendiam a atenção. Era uma época em que os repórteres faziam a cobertura de um clube por longo tempo e nos sentíamos como se fossemos seus amigos, dado o tempo em que parávamos para ouvi-los, mesmo sem conhecê-los pessoalmente.

E eles faziam o seu trabalho com muita competência, informando com precisão e prendendo a atenção dos ouvintes durante toda a semana e nos jogos – anunciavam a provável escalação, dúvidas sobre se algum jogador iria jogar ou não, entrevistas dentro de campo antes, durante e depois do jogo. A gente imaginava o jogo pela voz dos locutores e repórteres.

Mas tinha uma época do ano, principalmente no final e no começo, que as notícias sobre contratações nos deixavam enlouquecidos, querendo saber sobre se o jogador A ou B viria para o nosso clube ou se um ídolo seria mesmo vendido. E os repórteres sabiam fazer esse suspense muito bem porque tinham pleno conhecimento do assunto, além de estarem sempre muito bem-informados.

Era uma época em que não se discutia gestão, governança e, principalmente, finanças. Parecia que o dinheiro era farto e irrelevante para uma contratação. E ninguém se importava com isso, seja dirigente, jornalista ou torcedor.

Os tempos mudaram (ainda bem) quando os clubes começaram a passar por gravíssimas dificuldades financeiras, afetando fortemente suas performances esportivas. Aí a questão financeira, principalmente, começou a fazer parte da pauta esportiva, tão relevante quanto
a performance dentro dos campos e das quadras.

Quero frisar que ninguém é obrigado a saber sobre determinado assunto, ainda mais quando este é relativamente novo, mas um estudo ou mesmo uma consulta a especialistas ajuda muito na correta análise e informação ao seu público. Principalmente sobre um assunto que possui um forte impacto sobre o futuro dos clubes e indiretamente sobre o seu próprio futuro. Assim como qualquer profissional, os jornalistas esportivos têm a oportunidade de se capacitar para comentar as questões relativas às finanças e à gestão.

Na semana passada, por exemplo, eu ouvia uma resenha no rádio quando um jornalista se referiu a um clube, com gravíssimos problemas financeiros e performance esportiva também muito ruim. Seu argumento era de que se tratava de um clube com uma história muito relevante no futebol brasileiro e não poderia estar nesta situação; que os dirigentes (que assumiram o clube há menos de um ano) deveriam contratar, colocar dinheiro no clube, etc, etc, etc. Uma solução tão simples que, se fosse realmente factível, já teria sido implementada. E ainda por cima, faz a torcida acreditar que é possível e a estimula a cobrar do dirigente a tal “simples” solução.

Uma afirmação como essa feita acima, sem um mínimo de consistência ao invés de ser educativa e pertinente, prejudica bastante o processo de reestruturação e desenvolvimento das entidade esportivas e faz com que os dirigentes, que sabem que não podem abrir mão da boa gestão para alcançar bons resultados em campo, tenham mais dificuldades para recuperar os seus clubes. A análise bem embasada ajuda o torcedor a entender melhor a situação vivida pelo seu clube e a estabelecer uma opinião sobre o acerto ou não das medidas adotadas pela gestão.

O enfraquecimento dos clubes e entidades esportivas afeta toda a indústria do esporte, inclusive a categoria de jornalistas esportivos. Considero, pois, um momento muito oportuno para que todos (jornalistas, torcedores e outros) que se interessam por temas tais como gestão, finanças e governança procurem se educar mais sobre eles para que os debates e as discussões se tornem mais ricas.

Até a próxima!