Muitos falam que Neymar é o principal herdeiro do estilo de jogo de Ronaldinho Gaúcho. Os dois brasileiros carregam no DNA de seu futebol a alegria típica do jogador irreverente, escola inaugurada por Garrincha. E há 10 anos atrás uma partida foi uma espécie de passagem de bastão entre os dois gênios brasileiros. Foi no dia 27 de julho de 2011 que o Flamengo visitou o Santos na Vila Belmiro em uma partida memorável que terminou 5 a 4 para o rubro-negro carioca.
Para entender o que aconteceu na partida que é considerada a maior da história do brasileiro por pontos corridos, é preciso compreender o contexto que envolvia aquela partida. O Santos era a principal equipe do futebol brasileiro, campeão da Copa do Brasil em 2010 (ano em que Neymar e Ganso desabrocharam definitivamente para o futebol) e da Libertadores em 2011. O time treinado por Muricy Ramalho tinha justamente nesta partida o retorno de jogadores que retornavam da disputa da Copa América, disputada na Argentina. Era o início da Era Neymar com a camisa canarinho e o retorno do craque na partida era aguardado principalmente pelo duelo com Ronaldinho Gaúcho.
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O Flamengo era treinado por Vanderlei Luxemburgo e vinha invicto no Brasileirão após 11 rodadas. O time havia vencido cinco e empatado seis partidas até então. Com muitos empates a torcida desconfiava do poderio rubro-negro contra o Santos na Vila Belmiro. A equipe contava com bons valores na equipe, caso de Thiago Neves, que dividia com Ronaldinho a criação das jogadas. O contestado Deivid era o comandante do ataque rubro-negro.
Amasso santista e atuação galáctica de Neymar na primeira etapa
A partida teve início com o Santos confirmando o favoritismo e atropelando o Flamengo nos minutos iniciais de jogo. Em um lançamento primoroso, logo nos movimentos iniciais da partida, o meia Elano deixou o atacante Borges na cara de Felipe. Com extrema tranquilidade, o parceiro de Neymar deu um leve toque, o suficiente para tirar a bola do alcance do goleiro rubro-negro Felipe. Na sequência Borges ampliou, completando jogada individual de Neymar, que, deitado no chão, conseguiu acertar o passe para o companheiro.
Impiedoso o Santos seguia atropelando e o Flamengo dava sinais de que enfim a invencibilidade de 11 jogos chegaria ao fim. Aos 26 da etapa inicial, Neymar arrancou pelo meio, jogou para Borges, que escorou e devolveu. Num drible improvável, o camisa 11 passou pela dupla de zaga rubro-negra Welinton e Ronaldo Angelim e ficou na frente de Felipe. O toque final foi leve, por baixo do goleiro. A Vila Belmiro aplaudiu de pé. O gol ganhou placa no estádio e foi laureado com o Prêmio Puskas pela FIFA no final daquela temporada. Um 3 a 0 inapelável que deixava o Fla atônito.
Nas cordas, Fla reage e Felipe debocha de Elano
A festa alvinegra estava armada. Cabia muito mais. Aliás, houve muito mais. Só que, agora, por parte do Flamengo. O jogo mudou de lado. O Rubro-Negro não se intimidou com a vantagem adversária e continuou indo para cima. Marcou dois gols rápidos, com Ronaldinho e Thiago Neves e pressionou o Santos, que apresentava muitas falhas defensivas.
Logo após a reação rubro-negra o árbitro marcou pênalti em cima de Neymar. O cobrador da equipe era Borges, mas o meia Elano, que havia perdido um pênalti de maneira bisonha na Copa América, quis se redimir. Mas como diria Muricy Ramalho, a bola pune. E puniu. Uma cavadinha displicente. A bola, leve, tranquila, morreu nos braços de Felipe, que ainda teve tempo de ‘descontar’ a ousadia do santista ao fazer embaixadinhas antes de repor a bola em jogo. Para piorar a situação do meia santista, Deivid, escorando cobrança de escanteio, empatou a partida. O Flamengo estava vivo.
O panorama da segunda etapa se manteve idêntico. Ataques endiabrados se sobrepondo a defesas muito vulneráveis. Nos 45 minutos finais, Ronaldinho decidiu duelar com Neymar e o que se viu foi uma ópera de futebol no solo sagrado da Vila Belmiro. De uma lado Neymar, porém, fazia a diferença. Puxando contra-ataques, ele tirou o Peixe do sufoco logo após o início do segundo tempo, arrancando pela esquerda e dando um toque inspirado para matar Felipe. Mas Neymar não era o único protagonista do jogaço. Ronaldinho Gaúcho mostrou que o craque pensa à frente, surpreende, improvisa. Falta na entrada da área, pelo lado direito. Rafael armou a barreira e se posicionou no lado direito. Todos esperavam a batida por cima da barreira. Esperto, o camisa 10 tocou rasteiro. A bola passou por baixo e enganou o goleiro santista. 4 a 4!
Com o placar empatado e as pessoas em absoluto transe futebolístico, redações já pensavam nas manchetes para o épico empate, sob a batuta de um gênio passando o bastão para outro. Foi quando o Flamengo roubou a bola no meio-campo – em um erro de Ganso. Um contra-ataque mortal, com Ronaldinho arrancando pela esquerda, invadindo a área e definindo o placar. 5 a 4 Flamengo em um jogo eterno.
Há 10 anos (2011), o Mengão vencia o Santos, de virada, por 5 a 4, na Vila, em um dos jogos mais espetaculares da história do confronto. Ronaldinho (3x), Thiago Neves e Deivid marcaram os gols do Fla na partida, válida pelo Brasileiro. #CRF #MuseuDoFlamengo
📸 @AlexandreVidal1 pic.twitter.com/AfwSucnTTF
— Flamengo (@Flamengo) July 27, 2021
FICHA TÉCNICA
Santos 4×5 Flamengo
Campeonato Brasileiro 2011, 12ª rodada
Vila Belmiro, Santos-SP, 21h45
Santos: Rafael, Pará, Edu Dracena, Durval e Léo; Arouca, Ibson, Elano (Alan Kardec) e Ganso; Neymar e Borges. Técnico: Muricy Ramalho
Flamengo: Felipe, Léo Moura, Welinton (David), Ronaldo Angelim e Junior Cesar; Willians, Luiz Antonio (Bottinelli), Renato e Thiago Neves; Ronaldinho Gaúcho e Deivid (Jean). Técnico: Vanderlei Luxemburgo.
Gols: Borges (4′, 16′), Neymar (26′, 50′), Ronaldinho Gaúcho (28′, 67′ e 81′), Thiago Neves (31′) e Deivid (43′).
