Wallim Vasconcellos: ‘Operações da SAF e seus impactos sobre o futebol brasileiro’

'Para o futebol brasileiro, essas operações significam o começo de uma nova era; uma era de transformação que se faz extremamente necessária, para o bem dos clubes, dos torcedores e do produto', diz colunista

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Foto: Reprodução / Flamengo

A SAF CHEGOU

Recentemente, tivemos a notícia da criação do Cruzeiro SAF e o anúncio da aquisição do controle do seu capital pelo ex-jogador Ronaldo Fenômeno e, também, da compra do Botafogo SAF pelo investidor americano John Textor, que detém 18% do clube inglês Crystal Palace. Vários bons artigos foram escritos sobre o assunto, todos comentando as operações e seus impactos sobre o futebol brasileiro.

Em relação às operações em si, porém, muitas dúvidas ainda pairam. As únicas informações fornecidas até o momento são o percentual do capital a ser detido pelos investidores, de 90% do capital total das SAF’s, e o valor a ser aportado no montante de 400 milhões de reais nos dois clubes. Não se sabe, entretanto, durante quanto tempo se darão os aportes, nem em que serão investidos. Também não está claro como esse dinheiro vai entrar na SAF, se por meio de aumento de capital, empréstimo ou ambos e, tampouco, se outros investidores participarão das operações juntamente com os dois âncoras.

Pelo que foi comentado na divulgação das operações, trata-se, por enquanto, de um memorando de intenções, já com algumas definições, mas com vários pontos pendentes sendo discutidos. Talvez o mais sensível seja a apuração do montante real da dívida, que será motivo de uma profunda diligência, pois este determinará por quanto tempo a SAF repassará recursos para o clube associativo.

Vale lembrar que a nova legislação determina que 20% da receita bruta da SAF irá para o clube associativo pagar todas as suas dívidas, o que deverá levar muitos anos. Suponha que a SAF gere 300 milhões de reais de receita nos primeiros anos, logo cerca de 60 milhões de reais iriam para o clube associativo, restando 240 milhões de receita e uma margem de lucro bastante apertada. Se considerarmos uma dívida de 1 bilhão de reais, sem incluir os juros, levaria cerca de 17 anos para pagá-la totalmente, afetando significativamente a capacidade de geração de caixa da SAF e, em consequência, o volume de investimentos no futebol. Como o valor de uma empresa é determinado pelo que ela vai gerar de caixa no futuro, quanto mais tempo ela repassar recursos, menor valor ela terá.

Uma alternativa, provavelmente já considerada pelos assessores e com alto impacto positivo numa operação deste tipo, é a compra, por investidores especializados neste tipo de transação e mediante um elevado deságio, dos créditos detidos contra o clube associativo (estimado em 1 bilhão de reais em ambos os clubes). Esse movimento é atrativo por 2 razões: trata-se de uma operação muito rentável para o investidor e ajuda a criar mais valor para a SAF num período bem mais curto.

Por se tratar de uma operação inovadora, muitas situações não previstas inicialmente acontecem e têm que ser resolvidas. Por outro lado, quem participa dela se beneficia por ter aprendido a encontrar as soluções antes dos outros e poder implementá-las em ocasiões semelhantes mais adiante. Para o futebol brasileiro, essas operações significam o começo de uma nova era; uma era de transformação que se faz extremamente necessária, para o bem dos clubes, dos torcedores e do produto futebol, o início de um círculo virtuoso. Para complementar esse movimento importante, faltará apenas a criação de uma liga profissional e independente da CBF. Aí sim, os dias de glórias do futebol brasileiro no cenário internacional estarão de volta.

Aproveito para desejar Boas Festas e um feliz 2022 para todos!