Os técnicos estrangeiros estão em alta no futebol brasileiro nos últimos anos, como os portugueses Jorge Jesus e Abel Ferreira, que conquistaram vários títulos importantes. Em entrevista ao Canal ”UOL”, o psicanalista Felipe de Moura Corrêa relacionou o contexto social com o nível de trabalho do treinador brasileiro, citando que a maioria deles falham na questão intelectual, contando com a experiência que tiveram como jogadores.
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“Em um país como o Brasil, esse jogador que vira treinador futuramente, 90% das vezes foi um menino pobre, que sonhou mudar de vida, a questão é essa, que teve muitas vezes que largar a educação para poder seguir a profissão. A gente olha para o Brasil, e aí eu não estou, não é uma crítica a nenhum dos profissionais, mas técnicos renomados do Brasil nos últimos anos, Muricy, Abel Braga, Luxemburgo, Felipão, todos ex-jogadores, todos vindos praticamente dessa realidade que a gente está falando aqui”, afirma o psicanalista em entrevista a Mauro Cezar Pereira, no programa ”Dividida”.
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“Quando você chega no nível do conhecimento que o futebol exige hoje, quem já leu o livro do Guardiola, o ‘Confidencial’, viu o que ele fez depois que ele sai do Barcelona, ele vai jantar com o Kasparov. Olha a diferença. Quais são os desafios que um técnico tem hoje? Eu tenho certeza que você pode ter um técnico muito inteligente, muito comunicativo, mas que eventualmente não sabe gerir um grupo, ele precisa saber gerir um grupo. Olha o quanto um psicólogo pode ajudar nesse meio, percebendo essas dinâmicas, mas sendo escutado”, completa.
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Além disso, Felipe afirma que a passagem de Jorge Jesus pelo Flamengo tem que ser encarada de forma pedagógica pelos treinadores brasileiros, e não de forma corporativista, como vem sendo. Segundo o psicanalista, o fato do Mister, que não chegou a treinar nenhum dos gigantes da Europa, conseguir fazer história no Brasil é sinal de que nosso futebol precisa se reinventar.
“É um caminho sem volta, eu acho que o Brasil está passando por essa transição, eu acho que a passagem do Jorge Jesus pelo Brasil deve ser pedagógica, a gente não está falando nem de um técnico que frequentou os maiores clubes europeus, e ele fez o que fez no Brasil, então é muito importante que não haja também esse corporativismo no meio, o meio precisa se reinventar e, óbvio, um país que fornece uma educação melhor, vai possibilitar melhores resultados”, afirma Felipe.
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“Basta você ver a diferença de educação que a gente tem, mesmo na América do Sul, na Argentina, no Chile, no Uruguai, você veja o quanto isso reflete, por exemplo, no sucesso dos técnicos argentinos. O quanto isso reflete nos jogadores argentinos que saem do país e não fazem um bate e volta um ano depois, como a gente vê tantos brasileiros fazendo, tanta dificuldade de adaptação a uma nova cultura, a uma nova realidade”, finalizou.