Não se compara! Flamengo bate 1bi de receita pelo segundo ano consecutivo

O ponto de interrogação que paira é sobre como esse dinheiro será utilizado

(Foto: Paula Reis/CRF)

O Flamengo continua surpreendendo no cenário financeiro do futebol brasileiro. Com uma receita de mais de R$ 1 bilhão em faturamento, o clube carioca alcançou esse marco pela segunda temporada consecutiva, deixando os demais clubes para trás. Além disso, o superávit acima dos R$ 100 milhões tornou-se uma rotina para a equipe.

Embora os gastos sejam altos, sendo os maiores do país, o Flamengo não enfrenta problemas nesse sentido. Como uma associação civil sem fins lucrativos, o clube não precisa dividir dividendos com proprietários, o que permite que o dinheiro seja utilizado exclusivamente para fins esportivos, sem restrições.

No entanto, mesmo em uma situação financeira confortável, é crucial para um clube evitar gastar excessivamente, a ponto de registrar prejuízos e perder gradualmente o controle sobre o endividamento. Felizmente, o Flamengo não corre esse risco. Com uma dívida em declínio desde o início da pandemia e uma quantia considerável em caixa (uma raridade para um clube de futebol brasileiro, com quase R$ 240 milhões disponíveis), o clube está bem posicionado para enfrentar o presente e o futuro.

O ponto de interrogação que paira é sobre como esse dinheiro será utilizado. Alguns portais noticiam que parte da cúpula rubro-negra tenha se conectado ao Bayern de Munique para entender melhor como foi construído seu estádio, e quais são os moldes de administração. Talvez esse seja o próximo passo. Veremos nos próximos capítulos.

Se analisarmos os números em ciclos, é possível perceber que a diretoria do Flamengo iniciou um forte ciclo de investimentos em 2019 e vem reduzindo gradualmente suas obrigações desde o início da pandemia. Em 2023, com menos obrigações acumuladas, o clube pode iniciar um novo ciclo de investimentos, principalmente em jogadores.

Quanto às receitas, os direitos de transmissão e premiações são os maiores do futebol brasileiro, totalizando quase meio bilhão em 2022. Isso se deve, em parte, ao contrato do Flamengo no Campeonato Brasileiro, que é o maior do país, com garantias mínimas de pay-per-view que outros clubes não possuem. Além disso, a Copa do Brasil e a Libertadores também contribuíram significativamente para esses pagamentos, já que o clube sagrou-se campeão em ambas as competições.

A área comercial também se destaca, sendo a que mais gera receita no futebol nacional, graças aos patrocínios e licenciamentos. Comparado ao ano anterior, o Flamengo adicionou R$ 50 milhões de uma só vez nessa área.

Com a reabertura total dos estádios após a pandemia, o Maracanã voltou a ter um impacto significativo nas contas do clube. A arrecadação com bilheterias aumentou de R$ 28 milhões em 2021 para R$ 101 milhões em 2022. O estádio passou a gerar mais receita, e o número de sócio-torcedores mais do que dobrou. O Flamengo é o clube que mais fatura com a torcida no país.

No entanto, as transferências de jogadores foram a única linha em que o Flamengo gerou menos dinheiro do que na temporada anterior. Isso não significa que a arrecadação líquida com a venda de direitos tenha sido baixa. O clube continua entre os que mais lucram com as negociações, com valores acima dos R$ 100 milhões.

É importante considerar a relação entre dinheiro e desempenho. Quanto mais um clube arrecada, mais gasta, e maior é a probabilidade de obter vitórias dentro de campo. No caso do Flamengo, há particularidades relacionadas à folha salarial.

A folha salarial do Flamengo é composta por diversos elementos, como salários, encargos, direitos de imagem, premiações e deduções previdenciárias. Como o clube foi campeão tanto da Copa do Brasil quanto da Libertadores, é natural que a diretoria distribua parte das premiações para o elenco campeão. Contabilmente, isso faz com que os bônus concedidos aos jogadores inflacionem a folha salarial. Além disso, os direitos de arena e o INSS são calculados com base na receita. Portanto, quanto mais o clube fatura, maiores são esses gastos.

Esclarecimentos à parte, em 2022, o Flamengo teve a maior folha salarial do futebol brasileiro. Os resultados obtidos, com as conquistas da Copa do Brasil e da Libertadores, são condizentes com o favoritismo que o dinheiro proporciona. Embora o quinto lugar no Campeonato Brasileiro não seja um demérito, fica evidente que o Flamengo está se preparando para um novo ciclo de investimentos, conforme demonstrado pela análise do endividamento, especialmente em relação aos prazos de vencimento. No ano passado, as dívidas de curto prazo foram reduzidas.

A dívida é calculada subtraindo-se o valor disponível em caixa e investimentos do montante total a ser pago. Embora o Flamengo tenha obrigações de curto prazo significativas, próximas a R$ 300 milhões, o fato de acumular uma grande quantidade de dinheiro em caixa e investimentos (quase R$ 240 milhões) resulta em um indicador altamente favorável.

Utilizando a metáfora de um cidadão comum para facilitar o entendimento, é como se essa pessoa tivesse muitas dívidas a serem pagas em breve, mas também possuísse uma quantia considerável na conta corrente. No dia do pagamento, basta utilizar o dinheiro disponível e resolver o problema. O que faltar pode ser resolvido com os salários que continuam a entrar todos os meses.

Entre as dívidas bancárias, encontram-se empréstimos de instituições financeiras. Recentemente, com as altas taxas de juros no Brasil, não tem sido recomendável manter dívidas desse tipo para ninguém. O Flamengo, seguindo essa lógica, reduziu suas pendências nessa linha em 2022.

Os parcelamentos fiscais, que já chegaram a R$ 400 milhões há uma década, vêm sendo reduzidos ano após ano. Desde que as mensalidades continuem sendo pagas, não há motivo para preocupação nesse aspecto.

As obrigações trabalhistas são correntes e não representam atrasos salariais. Por exemplo, os salários e encargos do mês de dezembro são pagos apenas em janeiro, mas, no fechamento do balanço em 31 de dezembro, são contabilizados como passivos. Como o valor é baixo, não há indícios de irresponsabilidade financeira.

Na categoria “outros”, estão incluídas dívidas com fornecedores, agentes e outros clubes. A maior parte está relacionada à aquisição de direitos econômicos e federativos de jogadores. Considerando que o Flamengo investe muito em reforços, é natural que essa categoria se destaque.

As contingências referem-se a processos judiciais em andamento, nos quais o departamento jurídico acredita que há alta probabilidade de derrota. Portanto, foi provisionado um valor de R$ 100 milhões para cobrir esses processos no momento de sua conclusão. No entanto, devido à demora da Justiça brasileira em resolver tais questões, essa dívida é classificada como de longo prazo.

Em resumo, o Flamengo acumulou uma quantia significativa em caixa e está em uma posição financeira confortável para lidar com suas obrigações. Com uma receita recorde, o clube vem investindo em jogadores e reduzindo suas dívidas gradualmente. As principais fontes de receita são os direitos de transmissão e premiações, patrocínios e bilheterias, impulsionados pelo sucesso esportivo e pela abertura dos estádios após a pandemia.

O Flamengo demonstra estar preparado para iniciar um novo ciclo de investimentos, mantendo um equilíbrio entre suas receitas e despesas. Resta aguardar para saber como o clube utilizará esse dinheiro e quais serão seus próximos passos financeiros.