Hugo Souza relembra dificuldades no Flamengo: ‘Com os erros chega a insegurança e desconfiança’

Goleiro chegou a ser a terceira opção da posição e busca dar a volta por cima

Hugo Souza relembra dificuldades no Flamengo: 'Com os erros chega a insegurança e desconfiança'
Foto: Alexandre Vidal / Flamengo

Hugo Souza é jovem, mas já viveu altos e baixos no Flamengo. O goleiro surgiu quando o elenco principal estava passando por um surto de Covid e teve a dura missão de substituir Diego Alves em uma jogo contra o Palmeiras, no Allianz Parque. O atleta teve uma brilhante atuação, foi eleito o melhor da partida e passou a ser visto como reserva imediato da posição. Porém, nem tudo são flores e o caminho era mais difícil do que parecia.

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Hugo cometeu falhas importantes na reta final de 2020, ficou evidente a dificuldade que tinha com os pés e perdeu espaço no elenco. Porém, conseguiu se recuperar nas últimas partidas do Brasileiro 2021. Em entrevista ao “GE”, o arqueiro falou sobre o peso que carregou com os erros cometidos, principalmente, contra o São Paulo.

“Com os erros chega a insegurança e desconfiança. Falta a confiança para tentar o passe difícil, o lançamento. O medo de errar faz errar mais ainda. Talvez tenha acontecido isso comigo. Infelizmente, eu fiquei marcado. Eu tenho que ter a cabeça boa agora, retomando a confiança, a fazer o que eu fazia antes das falhas. Foi o que eu fiz nesses últimos jogos. Joguei sem medo de errar e não errei. As coisas aconteceram da melhor forma.”

Conselho de mãe é algo que não deve ser ignorado, mas quando o sucesso sobe à cabeça, é difícil ouvir o que o outro tem para falar. O goleiro afirma que em determinado momento, parou de seguir os conselhos de sua mãe e se arrepende disso.

“Se eu não der ouvidos a ela, como fiz um período da minha vida, fica mais fácil de se perder. Nossos pais sempre querem o nosso bem. Você ter um pouco mais de fama e dinheiro aumenta teu ego, e, se não souber lidar, acaba deixando as oportunidades passarem. Eu consegui, depois de alguns deslizes, retomar meu equilíbrio.”

Oscilação na carreira

“Acredito que não só para mim, mas para todos os jogadores jovens, é uma mudança muito radical de vida, de tudo. De uma hora para outra a gente fica famoso, tem as facilidades. Essas coisas acabam atrapalhando o verdadeiro foco, que é se manter bem em campo. Acho que isso pode ter acontecido comigo. Me preocupei um pouco demais com as coisas que estavam em volta. Nunca deixei de treinar, de trabalhar, mas essas coisas atrapalham. Mas eu entendi que teria que estar 100% com a cabeça no futebol para dar a volta por cima. Foi o que eu consegui fazer.”

“Com certeza. Precisei entender o momento, por mais que eu tenha só 22 anos. É incrível, mas eu agora já não tenho mais a mentalidade que eu tinha com 21 (risos). Isso só o futebol proporciona. São altos e baixos, o que para os jovens é mais normal. Eu tenho trabalhado para chegar a um nível de oscilar só para cima. Isso que eu tenho em frente para o meu próximo ano e para os próximos.”

Mudança de comportamento

“Em alguns momentos a euforia ultrapassa a razão. Você imagina um jovem de 21 anos com tudo novo pela frente… às vezes é preciso equilíbrio, e talvez eu não tenha tido naquele momento. Eu entendi que precisava alcançar para retomar. São 39 jogos pelo Flamengo, 14 anos de casa. Lutei muito para ter essa oportunidade, e eu pensava: “Não posso jogar fora essa oportunidade”. Eu joguei, tive várias chances, e depois retornar para a terceira opção. Foi nesse momento que eu vi que precisava trabalhar minha mente para estar totalmente focado no futebol. Sei do meu potencial, sei do que posso fazer.

É muito bom realizar os sonhos, a vitória de tanta luta junto com minha família. E da noite para o dia. Minha base familiar sempre foi muito boa, fui criado na linha pela minha mãe. Sempre fui cristão. Depois de certo ponto, comecei a fazer minhas escolhas, andar com minhas próprias pernas: “Já sou maior de idade, o dinheiro maior em casa é o meu… Posso dar esse passo”. Aí que nos perdemos.

Hoje não tenho mais o meu pai, mas tenho minha mãe. Em qualquer momento da vida ela vai ter algo para me ensinar. Sabe muito mais da vida. Se eu não der ouvidos a ela, como fiz um período da minha vida, fica mais fácil de se perder. Nossos pais sempre querem o nosso bem. Você ter um pouco mais de fama e dinheiro aumenta teu ego, e se não souber lidar, acaba deixando as oportunidades passarem. Eu consegui, depois de alguns deslizes, retomar meu equilíbrio. O foco total tem que ser o campo. Dentro das quatro linhas que muda tudo.”

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Dificuldade de jogar com os pés

“Acredito que todos nós temos algo a evoluir. Qualquer carreira. Nunca é tarde. Eu só tenho 22 anos e muito a evoluir. Uma carreira grande, se Deus quiser. Com certeza ficou marcado, infelizmente, porque meus erros foram deste tipo. Mas é algo que eu sempre consegui efetuar bem na base e até no profissional. Só que com os erros chega a insegurança e desconfiança. Falta a confiança para tentar o passe difícil, o lançamento. O medo de errar faz errar mais ainda. Talvez tenha acontecido isso comigo.

Até o meu primeiro erro (contra o São Paulo), eu vinha muito bem nesse aspecto. A falha te tira a confiança. Eu tive que trabalhar minha mente. Claro que tenho que evoluir com os pés. O Hugo é ruim com os pés? Não. O Hugo faz um trabalho todo dia no CT. Quando termina o treino, peço para fazer esse tipo de atividade. Passe para o lado, para o outro, situações de jogo… Mas, infelizmente, eu fiquei marcado. Tenho a evoluir, vou evoluir. Se é isso que me cobram, é isso que eu quero mostrar. E também não quer dizer que eu seja perfeito debaixo das traves. Porque vai chegar o momento em que eu vou falhar. E aí? Vou ser ruim por completo? Não é assim. Eu tenho que ter a cabeça boa agora, retomando a confiança, a fazer o que eu fazia antes das falhas. Foi o que eu fiz nesses últimos jogos. Joguei sem medo de errar, e não errei. As coisas aconteceram da melhor forma.”

Qual erro que mais sentiu? Contra o São Paulo pela Copa do Brasil ou o na última rodada do Brasileiro 2020, também contra o São Paulo?

“Sem dúvida o segundo. O da Copa do Brasil era muito importante, claro, uma competição que essa geração ainda não conquistou. Mas era o primeiro jogo. Infelizmente falhei. O segundo foi doído. Era uma final para nós, estávamos disputando o título. Quando a gente foi campeão, foi um choro de alívio. Cairia tudo nas minhas costas, eu iria tomar pancada de todos os lados. Não sei se suportaria, não sei como seria minha reação.”

Conselhos do elenco rubro-negro

“Temos um grupo muito bom. Os mais velhos abraçam, dão conselho. Aprendo todo dia com Diego Alves, que tem uma experiência enorme na Europa e é um grande goleiro. Tem o Diego, Filipe Luís, que têm uma carreira gigante… Eles são referências e me passaram tranquilidade, diziam que meu momento ia chegar.

Lembro de um dia que eu tinha treinado muito bem, aí o Diego me chamou a falou: “Está vendo, esse é o Hugo que eu conheço, que treina com alegria, disposto. Esse é o Hugo que eu conheço. Você sabe que é bom”. O David Luiz também é um cara sensacional. Dois dias depois de chegar, me chama para conversar e diz: “Mais alegria para treinar. Vamos, treinar, pô. Eu sei o que você está sentindo. Você acha que eu não sei que você está frustrado e triste? Futebol não combina com tristeza, combina com alegria”. Eu disse que seguia trabalhando, mas por dentro realmente eu não estava bem. Sabia onde eu tinha chegado e onde eu estava na época. Peguei aquilo para mim e comecei a fazer os melhores treinos possíveis da minha carreira. Aí a oportunidade apareceu.”

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Expectativas para 2022

“Muito trabalho. O grupo do Flamengo é o melhor do Brasil, e vamos lutar pelo títulos. Minha cabeça é sempre de ajudar a conquistar os objetivos. Os coletivos vêm sempre na frente dos individuais. Nessa temporada não conseguimos os títulos, mas na próxima temporada eles virão.”