Especial Tri Carioca 99-2000-2001: Há exatos 20 anos, gol de Pet garantia façanha inédita

Diário do Fla conta como foi a saga desta conquista que completa 20 anos hoje

Foto: Satiro Sodré/Agif/Gazeta Press

Foi um tricampeonato carioca diferente. O quarto do Flamengo, iniciado em 1999, com um gol de Rodrigo Mendes, de falta, foi finalizado da mesma forma, há exatamente duas déccadas, numa cobrança magistral de Petkovic. Foi a primeira vez na história da competição que o tri foi conquistado em cima do mesmo adversário. Os três títulos tiveram total de seis jogos decisivos e o Rubro-Negro levou a melhor sobre o Vasco em quatro e empatou um. No terceiro e último Especial Tri Carioca 99-2000-2001, o Diário do Fla conta como foi a saga desta conquista que completa 20 anos hoje.

Quis o destino que o desfecho do tri fosse de virada. O Vasco contava com um time experiente e de muitas estrelas, entre elas, o goleiro Hélton, o zagueiro Alexandre Torres, os meias Juninho Paulista e Pedrinho, além do tetra Jorginho e de Euller e Viola no ataque. Jogando por dois empates, a equipe de São Januário venceu o primeiro jogo da final por 2 a 1, no dia 20 de maio de 2001. Petkovic ainda abriu o placar, mas Viola e Juninho Paulista, este aos 42 minutos do segundo tempo, fizeram os gols da vitória vascaína.

A capa do jornal O Globo mostra bem o quanto a remontada do Flamengo seria difícil. A manchete: “Vasco perto do título estadual”. Não foi à toa. O resultado na primeira parte da final deu ao Vasco o direito de perder o segundo confronto por um gol de diferença. No caderno de esportes, mais notícia ruim: “Uma virada contra o tri”, com subtítulo “O Vasco está muito perto do título. A equipe derrotou o Flamengo por 2 a 1, de virada, e só não será campeão se perder por dois gols de diferença”.

Nas declarações, no entanto, Zagallo não deixou por menos. Se Juninho Paulista falou em sorte de campeão, já que no seu gol de falta a bola desviou (ironicamente?) em Pet e selou o placar de 2 a 1 já no fim da partida, o Velho Lobo respondeu à altura: “Ainda não terminou não. Se repetirmos a atuação no próximo domingo, sem perder tantos gols, teremos chances de ser tri”. Sabe das coisas o maior vencedor do futebol mundial!
Se o Vasco tinha a vantagem e jogadores tarimbados, o Flamengo não ficava atrás. Pelo contrário, contava com o goleiro Júlio César, com Juan e Gamarra na zaga, Edilson, o Capetinha, e obviamente Pet, vestindo a 10, entre outros. Além disso, o retrospecto em finais era – e ainda é! – muito favorável.

Vale lembrar que, em 99, Rodrigo Mendes tinha tirado o favoritismo do rival com um gol de falta em cima de um time que tinha Edmundo, o zagueiro Mauro Galvão, Felipe na lateral-esquerda, o meia Ramon e Donizete Pantera para citar alguns. Um ano depois, o Rubro-Negro voltou a sair com a faixa no peito ao praticamente fechar a conta na vitória elástica por 3 a 0, em grande atuação de Athirson, no duelo que abriu a decisão. Após uma semana, ganhou novamente (2 x 1) e chegou ao bicampeonato.

Vamos voltar a 2001 e ao grande dia do tri. O Globo deu quatro páginas sobre a decisão, abrindo a extensa reportagem com o título: “Último capítulo da decisão”. “Vasco e Flamengo voltam a se encontrar no Maracanã, desta vez valendo o título” era o subtítulo da primeira matéria, com fotos das duas torcidas.

Uma página inteira dedicada a Joel Santana, com direito a conhecidas frases de efeito do então técnico vascaíno, também saltava aos olhos. Houve também espaço para Zagallo, com uma foto mostrando a emblemática camisa 13 às suas costas e a manchete: “Zagallo, paixão a serviço do futebol brasileiro”, dizendo que o Velho Lobo, hoje com 89 anos e na época com 69, não pensava em parar e que desde que se tornara treinador, em 1968, parecia o mesmo. Sua mulher, Dona Alcina, disse que o “esporte é a chama que o mantém vivo”. Na mesma página, matéria que todo rubro-negro gosta, registrando que o time contava com sete titulares feitos em casa e que “diretoria ainda quer mais”, sob o título: “Prata da casa, projeto que vale ouro”. Júlio César, Alessandro, Juan, Fernando, Cássio, Rocha e Reinaldo eram os crias.

E veio o tão sonhado e, desta vez, o inédito tri, conquistado 100% em cima do Vasco e protagonizado pela imortal Camisa 10, uma instituição do Flamengo, vestida por um sérvio chamado Dejan Petkovic ou Дејан Петковић, em sua língua natal. Com a internet ainda engatinhando, as pessoas ainda corriam o mais cedo possível às bancas e os jornais em preto e vermelho não deixavam mentir: “Fla tricampeão” estampou a primeira página do jornal O Globo. No caderno de Esportes, uma capa escrito “TRI” em letras garrafais, uma foto do herói do dia e um desenho do ilustre torcedor Henfil, com a frase “Explode coração”.

A menção ao maior ídolo não poderia ficar de fora: “Na cobrança de Pet, o gol com a marca de Zico”. O subtítulo contava, retratando bem a época, que a “Fita de vídeo com os melhores momentos da história do Flamengo, exibida na véspera na concentração, mexeu com o sérvio, que vai guardar a camisa 10 como um troféu”. A matéria sobre o autor do gol do título, com uma cobrança de falta magistral aos 43 minutos do segundo tempo dizia que o sérvio deixou o lado blasé de lado e se deixou levar pelo povo. E não faltou declaração de amor à torcida: “É maravilhoso, é impressionante. A torcida veio em massa, não deixou o time se abater. Se eles acreditavam no tri, apesar de todos os problemas, tínhamos de acreditar também. E o time todo acreditou até o fim”.

O volante Leandro Ávila, segundo a reportagem, deu um longo abraço em Pet e revelou seu pressentimento, que foi confirmado pelo sérvio: “Disse ao Pet que ele ia marcar um gol de falta. E não é que o cara foi lá e marcou…” E assim se encerrou mais uma das incontáveis conquistas épicas do Clube de Regatas do Flamengo.

Confira mais algumas declarações de Petkovic:

Zico
“Tenho certeza de que hoje o Zico está orgulhoso. Ele sabe que a camisa 10 que consagrou foi honrada”.

Minuto 43
“Foi o gol mais importante da minha vida. E dedico ele a esta torcida maravilhosa do Flamengo, que nunca nos abandonou”.

Obstáculos
“Passamos por uma série de problemas e todo mundo sabe disso. Mas na hora que foi preciso, nós superamos tudo e conquistamos um título inesquecível para os jogadores e os torcedores”.

Êxtase
“Quando peguei a bola para bater a falta, sabia que era a nossa última chance. Logo que bati na bola, achei que ela ia para fora e continuei com esta sensação até ver os companheiros correndo e a torcida comemorando. Aí enlouqueci”.

Festa
“Amanhã ninguém me acha. Vou comemorar muito, pois não é todo dia que se conquista um tricampeonato. Ainda mais da maneira como foi este”.

Amor Rubro-Negro
“Já disse que quero encerrar minha carreira no Flamengo. Mas isso não depende só de mim”.