Arthur Muhlenberg estreia coluna no Diário do Fla: ‘O Tricampeonato mais mole da história’

Mais Querido da Gávea, que esse ano já conquistou o TRI do Carioca, disputa à vera o TRI da Libertadores e tentará pela segunda vez o TRI do Brasileiro

Arthur Muhlenberg estreia coluna no Diário do Fla: 'O Tricampeonato mais mole da história'
Foto: Reprodução de internet

No domingo, com todas as broncas e inquéritos da primeira parte da Libertadores já resolvidos, o Flamengo começa sua epopeia em mais um Campeonato Brasileiro. Se não falham as contas, será a quinquagésima vez em que o Flamengo participará desse evento seminal para a integração nacional. Como no ano passado, o Flamengo inicia a competição como o grande favorito para vencê-la.

O Mais Querido da Gávea, que esse ano já conquistou o TRI do Carioca, disputa à vera o TRI da Libertadores e tentará pela segunda vez o TRI do Brasileiro. Nem é preciso falar sobre a forte ligação do Flamengo com os tricampeonatos, mas falemos assim mesmo. O Flamengo aprendeu em 44, com Jurandyr, Zizinho e Valido, como é bom ganhar três vezes sem tirar e nunca mais desaprendeu.

Desde então os tricampeonatos no Flamengo se tornaram efemérides de caráter regular, fenômenos geracionais que funcionam também como ritos de passagem para os rubro-negros de todas as idades. Papai e filhinho, vovô e netinho, se torcem pro Flamengo já comemoraram um TRI juntos, o que solidifica ainda mais os laços do rubro-negrismo. Um hábito salutar que contribuiu decisivamente para que se cultivasse nas hostes bem vestidas uma benigna obsessão pelos tricampeonatos.

Obsessão justificada, são os fatos estatísticos que comprovam que o Flamengo, desde que foi pra pista em 1912, jamais deixou passar uma chance de ser TRI. Sempre que o cavalo do TRI passou encilhado o Flamengo montou e chegou lá. Foi assim 1944 com Valido, foi assim em 1955, 1979, 2001 e 2009 pelo Carioca. Foi assim também em 2013 pela Copa do Brasil. E aí termina a nossa lista de tricampeonatos, faltam dois que ainda não temos: o TRI da Libertadores, que hoje ainda é só uma abstração, e o TRI do Brasileiro, que em 2021 está perto da Gávea como jamais esteve.

Arthur Muhlenberg estreia coluna no Diário do Fla

Não é uma meta fácil, ser o melhor durante 114 jogos consecutivos é como atingir o pico de um verdadeiro Himalaia futebolístico. Até hoje só o São Paulo de Muricy alcançou essa glória. Se atualmente o TRI do Brasileiro ainda é a carta mais valiosa no supertrunfo das resenhas e o Flamengo ainda não a possui, algo precisa ser feito.

Talvez soe exagerado, mas exclusivamente de acordo com os fatos, sem sentimentalismos, mistificações ou clubismo, o Brasileiro de 2021 pode ser considerado o TRI mais mole da história do Flamengo. Se o Flamengo não der tanto mole como deu em 2020 e ainda assim foi campeão, a torcida poderá comemorar o TRI do Brasileiro mais ou menos na altura da 25ª ou 26ª rodada. Esse ano não dá pra terceirizar responsabilidades se quiser ser campeão, não é todo dia que o Cássio fecha o gol.

Em 2021 o Flamengo não pode vacilar, favoritismo é que nem vontade de trabalhar: se ficar parado de bobeira, passa. Em 1984 o Flamengo chegou a considerar a possibilidade de ser TRI do Brasil, era um dos melhores elencos do Brasil e tinha um estilo de jogo bem definido. Mas as traumáticas perdas de Zico e Junior desmancham qualquer favoritismo. No Brasileiro de 1984 o Flamengo ficou apenas em quinto lugar.

Não dá nem pra comparar os dois momentos do Flamengo. Em 1984 o Flamengo nadava em dinheiro, com os dólares das vendas de Zico e Junior o Flamengo comprou todo mundo que quis, e até alguns que não quis, mas que na hora parecerem ser um bom negócio. 1984 foi definitivamente o ano do fim do time campeão de tudo de 1981. Um dia tudo acaba mesmo.

Mas o Flamengo de 2021 é o oposto disso. Não está nadando em dinheiro, mas até agora tem mantido o balanço no azul e o elenco vencedor de 2019 com pouquíssimas baixas. Claro que enquanto a janela europeia estiver aberta não há a garantia de que alguém não seja negociado. O mercado é comprador.

Com o Real depreciado, fazer a feira no Flamengo não é proibitivo, e até clubes médios como o Olympique de Marseille, muito distante dos tempo gordos do vigarista Bernard Tapie, podem tirar nossos craques sem grandes esforços. Temos que nos conformar, futebol business é essa putaria mesmo, principalmente para os abusados que, como o Flamengo, querem jogar o jogo global dos grandes operando num mercado periférico.

Atlético, na fila imensa há 50 anos, Inter há 42 anos passando vergonha e o São Paulo, há 12 anos na fila da carne, só chupando dedo e vendo o Flamengo empilhar troféu, vêm desesperados pra cima da gente. Mas os três são vices do Flamengo, não há muito com o que se preocupar.

Ainda bem que inveja não ganha Brasileiro. Se ganhasse, o Palmeiras até que seria uma ameaça. Mas se os caras não conseguem nem ganhar o fraco rural paulista não é lógico considerá-lo um dos favoritos ao vice-campeonato Brasileiro. O foco tem que ser nos três sofredores supracitados. Ganhando deles vai ficar mais fácil pro Flamengo ser TRI.

No meio do caminho tinha um tricampeonato. Tinha um tricampeonato no meio do caminho. Tinha um tricampeonato. No meio do caminho tinha um tricampeonato. Nunca nos esqueceremos desse acontecimento na vida de nossas retinas tão fatigadas.