Análise Tática Flamengo 2 x 3 Botafogo: O dia em que Sampaoli errou tudo

Técnico fez escolhas terríveis, que foram determinantes na derrota rubro-negra

Foto: Reprodução/FlaTV

O Flamengo perdeu para o Botafogo por 3 a 2 no domingo (30/04), no Maracanã, pela 3ª rodada do Campeonato Brasileiro. O Mais Querido até teve mais posse e desperdiçou grandes chances. Porém, o jogo ficou marcado por escolhas completamente equivocadas do técnico Sampaoli.

O argentino está no comando do Flamengo há apenas duas semanas e foi somente a quarta partida dele no clube. Entretanto, pela primeira vez, dá para dizer que Sampaoli foi responsável direto na derrota. Desde as escolhas no time titular, até às substituições, o treinador errou em praticamente tudo.

Para o clássico, o técnico optou por voltar à formação com três zagueiros de ofício. O time inicial escolhido por Sampaoli foi em um 3-5-2, com: Santos no gol; na primeira linha Fabrício Bruno à direita, David Luiz centralizado e Léo Pereira na esquerda; já nas alas, Wesley pela direita e Cebolinha na esquerda.

Ainda na segunda linha, Thiago Maia ficaria como primeiro volante em frente à zaga, com Vidal na frente dele mais à direita, Gerson adiantado à esquerda, enquanto Gabigol e Pedro formando a dupla de ataque. O camisa 9 mais fixo, como um pivô, enquanto o 10 tendo a liberdade para se movimentar pelo campo.

Esse time inicial já tinha sérios problemas. Isso porque, no quesito tático, se o time está com três zagueiros de ofício, não precisa de outros dois volantes com características defensivas, como os casos de Thiago Maia e Vidal. E, se levar em conta o péssimo momento técnico que a dupla vive, a situação fica ainda mais agravante.

Além disso, Vidal já demonstrou diversas vezes que não tem condições físicas de começar uma partida. O volante até consegue entregar quando entra no meio do segundo tempo, mas cai muito de rendimento quando inicia. Porém, por ter trabalhado com Sampaoli no Chile em 2014, tem prestígio com o treinador.

Ter o trio de zaga em campo com Vidal e Thiago Maia de volantes já limitaria muito a saída de bola rubro-negra, pois os dois tem pouca mobilidade para preencher os espaços e fazer a ligação da defesa para o ataque. A chave, entretanto, seria Gerson. O coringa vive grande fase e teria que ser o único responsável pela armação.

Entretanto, o meia sentiu um problema físico no aquecimento e ficou de fora da partida. Um grande baque para o time, sem dúvidas. Entretanto, a escolha de Sampaoli enterrou de vez qualquer chance de criação do Flamengo no primeiro tempo. Sem poder botar Everton Ribeiro de titular, também com desgaste físico, o técnico optou por Ayrton Lucas.

O jogador, porém, não atuou de lateral ou ala, como de costume. Sampaoli o botou para fazer justamente a fundamental função do Gerson. Ayrton Lucas, claro, ficou perdido em campo e não conseguiu render. Vale destacar que, mesmo sem ER, o técnico tinha jogadores da base de ótimo nível para fazer a função, como Victor Hugo e Matheus França.

O jogo

Com três zagueiros de ofício, dois volantes não criativos e um lateral improvisado no meio, o Flamengo ficou sem criação. A equipe rubro-negra tinha a posse de bola e Sampaoli escolheu uma estratégia interessante de atacar com Santos como líbero, com o goleiro adiantando até o meio de campo para auxiliar a saída de bola.

O técnico já tinha feito isso no Olympique de Marselha com sucesso e está adaptando ao Flamengo. A ideia em si é arriscada, porém pode render bons frutos. Isso porque, com o goleiro no meio, o time passa a ter um jogador a mais atacando. Assim, se o adversário for tentar pressionar, a equipe pode sair tocando e terá mais facilidade para achar espaços.

Pelo menos na teoria. Porém, na prática, não foi o que aconteceu. Isso porque, sem ter meias móveis e criativos para preencher os espaços e receber a bola, o Flamengo ficava apenas tocando entre Santos e os zagueiros, até perder a paciência e fazer um lançamento longo, sem sucesso.

E essa foi a tônica do primeiro tempo quase todo. Tirando uma boa jogada no começo da partida, em que Wesley foi acionado por Gabigol na direita e deu bom cruzamento rasteiro para Vidal, livre na área, que desperdiçou, chutando na trave. Mas, de resto, foi um time com posse, porém sem criação.

Já o Botafogo optou por se fechar. O adversário não fez questão nenhuma de ter a posse e quase em momento algum pressionou o Santos com a bola, justamente para não ceder espaços na defesa. A equipe esperava por uma chance, que veio. Aos 30, Victor Sá recebeu na esquerda e sofreu um pênalti discutível de Wesley. Tiquinho bateu e marcou.

Depois, o Flamengo continuou com a posse. A equipe melhorou um pouco quando Gabigol desistiu de esperar a bola chegar no ataque. O camisa 10 começou a recuar até o meio para iniciar a armação da jogada e, tendo um atleta criativo conduzindo, o time conseguiu criar duas chances.

Em ambas, Gabigol lançou Wesley pela direita. Na primeira, o cruzamento do jovem seria na medida, mas a zaga cortou. Na segunda, o lateral tocou de volta para o camisa 10, na entrada da área, que chutou de primeira. Porém, acabou indo em cima do goleiro, que defendeu.

Já aos 50, no último minuto do primeiro tempo, o Flamengo sofreu mais um gol de bola parada na temporada. Depois da cobrança de escanteio, Danilo Barbosa cabeceou completamente livre na primeira trave. Dessa forma, o Botafogo foi para o intervalo vencendo por 2 a 0.

Segundo tempo

Na volta da segunda etapa, com Everton Ribeiro disponível para entrar, Sampaoli corrigiu o primeiro erro dele, botando um armador em campo. O camisa 7 entrou na vaga de Ayrton Lucas, que acabou sendo nulo na posição improvisada, para fazer justamente a função de criação.

Com a desvantagem de dois gols, o técnico poderia até ter sido mais ousado, tirando um dos volantes ou zagueiros e abrindo Ayrton Lucas. Porém, só de entrar um armador em campo o time, logicamente, melhorou muito. Ainda mais pelo fato de Everton Ribeiro ter tido uma partida inspirada.

Logo com 30 segundos do segundo tempo, o camisa 7, que é muito bom em flutuar entre as linhas adversárias para receber a posse, ficou com a bola no meio, na intermediária. Então, ele deu um passe primoroso em elevação para Gabigol, na cara do gol. O atacante, entretanto, chutou muito mal, desperdiçando chance incrível.

Dois minutos depois, Wesley recebeu na direita, tocou para Everton Ribeiro, que girou bem o corpo, tirando a marcação, e deu mais um passe em elevação na medida para a infiltração de Gabigol. O atacante recebeu novamente de frente para o goleiro, livre, mas na perna direita, e chutou em cima de Perri.

Então, aos 6, Rafael do Botafogo foi expulso. Situação ficou muito favorável ao Flamengo, que já tinha voltado bem melhor e estava pressionando o Botafogo. Inicialmente, Sampaoli não fez mudanças. E, aos 12, o Mais Querido descontou, após cruzamento absurdo de Fabrício Bruno para Léo Pereira marcar, em belo chute.

O Flamengo teve a chance do empate dois minutos depois. Wesley recebeu aberto na direita, viu a infiltração de Everton Ribeiro e tocou na medida. O camisa 7, então, cruzou de trivela rasteiro para Gabigol, na pequena área, que chutou para fora, desperdiçando a terceira chance clara na partida.

Então, no minuto seguinte, Sampaoli fez uma substituição desastrosa. Com um jogador a mais, pressionando o Botafogo e achando espaços na defesa adversária, o técnico optou por tirar Wesley, que estava bem no jogo, para colocar Marinho na ala-direita. A escolha não fez o menor sentido, tanto no quesito técnico, como no tático.

Tecnicamente, Marinho vive fase terrível, enquanto tanto Wesley, como o jovem Matheus Gonçalves, que atua na mesma posição do ponta ex-Santos, estão bem melhores. Ou seja, se a ideia de Sampaoli era botar um ala canhoto aberto na direita, pelo quesito técnico, faria mais sentido botar a joia que estava no banco.

Porém, no aspecto tático, a escolha foi ainda pior. Isso porque, com um jogador a menos, o Botafogo estava todo fechado no meio, para tentar evitar as investidas rubro-negra. Assim, uma das principais formas de furar o bloqueio adversário era tendo também opções pelo lado do campo, que vão à linha de fundo, para abrir a zaga.

E o Botafogo estava dando muito espaço pelos lados, como ficou claro na jogada anterior à substituição. Entretanto, ao optar por botar Marinho aberto na direita, o Flamengo perdeu totalmente a profundidade pelo setor. Isso porque, o jogador não faz uma jogada para a linha de fundo, sempre recebendo a bola e cortando para o meio, na perna canhota.

Ou seja, foi uma substituição totalmente desastrosa. Nesse jogo, faria mais sentido até ter o Marinho na ala-esquerda do que na direita. Além disso, um outro ponto foi que Sampaoli manteve os três zagueiros de ofício e dois volantes defensivos, mesmo com um jogador a mais e perdendo a partida.

E, para piorar, o Flamengo ainda conseguiu tomar um gol, com todos esses jogadores. Aos 25, o Botafogo foi para o contra-ataque, com Vidal se arrastando em campo, e quase marcou, parando em bloqueio do Fabrício Bruno. Porém, na sequência, Tchê Tchê recebeu batida de lateral na direita, passou por três, tocou por baixo das pernas do David Luiz para Tiquinho, totalmente livre, chutar e fazer.

Sim, mesmo com um a mais em campo e tendo três zagueiros e dois volantes, o Flamengo deixou o Tiquinho e mais um atleta do Botafogo livres na área para marcar. Após o gol, Sampaoli fez mais uma mudança. Mas, se você imagina que ele tirou um desses jogadores, se enganou.

A estratégia foi substituir Cebolinha, que de vez em quando estava assustando pela esquerda, para botar Bruno Henrique, totalmente sem ritmo de jogo. O atacante só tinha atuado por 21 minutos depois de dez meses fora, ficou afastado dos últimos três jogos devido a uma tendinite e, agora, retornou na reta final de um clássico pegado, com o Flamengo precisando de dois gols.

Obviamente, e não por culpa do jogador, Bruno Henrique não conseguiu ter uma boa atuação e o Flamengo ficou também sem profundidade pela esquerda. Apenas aos 35 minutos do segundo, depois de 29 minutos com um jogador a mais, que Sampaoli finalmente mudou a dupla de volantes.

Isso que Thiago Maia saiu lesionado, após fazer entrada em que merecia ser expulso, mas, por erro da arbitragem, o Flamengo continuou com 11 em campo. Então, ele e Vidal, que mal aguentava andar em campo, saíram. Entraram nos lugares deles Victor Hugo e Matheus França.

Apesar de poucos minutos em campo, os dois jovens de 19 anos foram mais participativos do que a dupla que saiu, deixando claro como Sampaoli errou pela demora ao botá-los. Já com o Flamengo pressionando, Everton Ribeiro voltou a aparecer duas vezes. Na primeira, deu um passe maravilhoso, de letra, para Pedro, na cara do gol, que perdeu.

Já no minuto seguinte, bateu escanteio na medida para Léo Pereira fazer o segundo dele na partida, aos 40. O Flamengo ainda teve 15 minutos de pressão. David Luiz desperdiçou chance de cabeça, após jogada de Matheus França na direita. O próprio jovem também quase fez, depois de receber um lançamento maravilhoso de Victor Hugo.

Mas, não deu para o rubro-negro, que saiu derrotado. O time, claro, perdeu muitas chances, principalmente Gabigol e Pedro. Porém, Sampaoli foi o principal responsável. O treinador teve um dia pavoroso, com erros na escalação, demora para mudar e substituições completamente equivocadas.

Em termos de coletivo, o técnico argentino até está dando uma outra cara ao Flamengo. Equipe está sim mais organizada e compacta, tanto que dominou a posse de bola e criou chances. Ainda há muito para evoluir, principalmente na defesa, mas já é possível ver um caminho. Porém, as escolhas pelas peças foram tenebrosas.

Sampaoli precisa rever urgentemente o conceito de botar necessariamente os mais experientes em campo e tem que valorizar a base o quanto antes. Marinho e Vidal não podem mais entrar antes de Victor Hugo, Matheus França e Gonçalves, por exemplo. Caso faça isso, tem tudo para elevar bastante o nível do time.