Análise Tática Flamengo 0 x 0 Cuiabá: Empate com sabor de derrota

Mais Querido tropeçou no Maracanã e desperdiçou oportunidade de se aproximar da liderança do Brasileirão

(Foto: Reprodução/Alexandre Vidal/Flamengo)

O Flamengo empatou com o Cuiabá em 0 a 0, neste domingo (17/10), no Maracanã, pela 27ª rodada do Campeonato Brasileiro. O empate, entretanto, teve sabor de derrota. Isso porque, o Mais Querido entrou em campo sabendo que o Atlético-MG, líder da competição, tinha perdido para o Atlético-GO. Assim, a equipe da Gávea só dependia de si para ser campeã, mas acabou tropeçando. O resultado teve influência clara da arbitragem, que anulou um gol legal do rubro-negro. Entretanto, não foi só isso. O time carioca não teve uma boa atuação e desperdiçou uma ótima oportunidade.

O Mais Querido entrou em campo novamente com desfalques importantes, sem 5 jogadores considerados titulares. David Luiz, Arrascaeta e Bruno Henrique, lesionados, não atuaram, enquanto Isla teve problemas no voo para o Brasil e Rodrigo Caio foi poupado. Além disso, Pedro, que vinha de uma ótima sequência, com 3 gols e 1 assistência nos últimos 3 jogos, sentiu dores no joelho e também não foi relacionado. A boa notícia é que o técnico Renato Gaúcho contou com as voltas de Everton Ribeiro e Gabigol, que desfalcaram os 3 confrontos anteriores devido à Data Fifa.

Matheuzinho foi o lateral-direito, com Bruno Viana e Léo Pereira formando a dupla de zaga. Everton Ribeiro voltou para a meia-direita, tendo Michael aberto na esquerda, na vaga de Bruno Henrique, e Gabigol de centroavante. A grande questão foram os outros meias. Existia uma dúvida para saber quem seria o meia-armador, já que, com ER7 de volta, Vitinho poderia voltar a fazer a função. Mas, Renato Gaúcho optou por manter o trio dos jogos anteriores, com Willian Arão, Thiago Maia e Andreas Pereira. Entretanto, ao invés de atuar no 4-3-3, como contra o Fortaleza, o técnico voltou para o 4-2-3-1, com o belga-brasileiro de “camisa 10”.

O problema é que Andreas Pereira atua melhor de 2º ou 3º volante, tendo mais liberdade para recuar e construir o jogo de frente, partindo do meio. Já de armador, no 4-2-3-1, o camisa 18 até cai pelos dois lados, mas fica mais avançado, recebendo mais próximo da área e de costas para o gol, que não é aonde ele rende mais. Com isso, ele teve uma atuação bem inferior dos últimos dois confrontos, lembrando a do jogo contra o Bragantino, em que também foi bem mal. Consequentemente, sem Andreas em uma noite boa, o Flamengo perdeu o principal “motor” do time e teve dificuldades de criação.

Além disso, com Thiago Maia de 2º volante, ao invés de Andreas, o Flamengo ganha em solidez defensiva, mas perde em criação e mobilidade. Maia, que é 1º volante de origem, até foi bem na defesa, tendo ganho 8 duelos no chão e feito 2 desarmes. Entretanto, não conseguiu auxiliar quando o time teve a posse, indo novamente mal ofensivamente. O jogador perdeu bola em 14 oportunidades, não finalizou e nem deu passe decisivo. Ou seja, com ele na função, o Mais Querido perdeu bastante em criação. Além disso, o Cuiabá teve uma estratégia clara de se defender e não incomodava na frente, então não era necessário tê-lo para fortalecer o sistema defensivo.

A equipe rubro-negra até começou bem. Assustou aos 3 minutos com chute de Matheuzinho, após tabelar com Gabigol, que deu lindo passe de letra, e a equipe abriu o placar aos 8. Novamente o lateral tabelou com o camisa 9, mas o zagueiro interceptou. Matheuzinho, então, dividiu com o defensor adversário e a bola ficou com Michael, que cortou para a direita e finalizou cruzado, sem chances para o goleiro. Entretanto, a bandeirinha marcou impedimento do jovem lateral no começo da jogada. O VAR chamou – corretamente – o árbitro para rever o lance, já que pela regra o gol era legal, mas o juiz manteve a anulação.

O lance, claro, mudou a cara do jogo. Se o Flamengo faz 1 a 0 com menos de 10 minutos, o Cuiabá em algum momento teria que sair para buscar o empate, deixando espaços na defesa, algo que o Mais Querido costuma explorar muito bem. Mas, a realidade é que o árbitro anulou erroneamente, só que o rubro-negro teve 90 minutos (contando os acréscimos) para vencer e não conseguiu. O adversário se manteve totalmente fechado e fazendo todo tipo de cera, que não foi coibida pelo juiz, e o time carioca não conseguiu criar.

Isso porque, depois do começo animador, o Flamengo teve muitas dificuldades. A equipe teve 71% de posse, mas não furava o bloqueio adversário. O time tocava a bola de um lado para o outro, com paciência, só que buscando muito a ponta para cruzar na área. Ao todo, foram 46 cruzamentos do rubro-negro em toda a partida. O problema maior é que, sem Bruno Henrique e Pedro, o setor ofensivo do time que entrou em campo era de baixa estatura. Então, as bolas jogadas na área não funcionavam e eram perfeitas para a forte e alta dupla de zaga adversária.

No segundo tempo, Renato optou por não substituir no intervalo, mantendo Thiago Maia, mesmo o Cuiabá só tendo assustado em um lance, no último minuto da primeira etapa. O treinador só optou por tirá-lo aos 11, colocando Kenedy, que atuou aberto na direita. Assim, Everton Ribeiro centralizou e Andreas Pereira passou para 2º volante, onde participou mais da partida. Porém, a equipe continuou protocolar, buscando sempre o lado de campo e com toques curtos, sem tentar muitas tabelas pelo meio, ou a finalização de fora da área.

O único jogador que tentava algo diferente, desde a primeira etapa, foi Michael. O ponta buscou o jogo, correu, se movimentou e, quando pegava na bola, ia para cima, tentando o drible, indo para o fundo ou por dentro. Não atoa, foram dos pés dele que saíram as principais chances do Flamengo. Além do gol mal anulado, deu três finalizações de perigo, mas sem conseguir caprichar no chute, e criou a principal chance da equipe, aos 27 da segunda etapa, em jogada que tabelou com Everton Ribeiro, cortou para dentro e serviu Gabigol quase na marca do pênalti. O camisa 9 bateu de primeira, mas em cima do zagueiro.

No minuto seguinte, Gabi foi substituído. O atacante se movimentou bastante, abrindo pelo lado de campo, mas não esteve no melhor dia. De acordo com o técnico Renato Gaúcho, o camisa 9 passou mal antes e no intervalo do jogo, então não esteve tão bem. No lugar dele e sem Pedro, o técnico colocou o jovem centroavante Vitor Gabriel, que não participou tanto. Ao mesmo tempo, Vitinho entrou na vaga de Everton Ribeiro. Aos 44, Michael saiu para entrada de Gustavo Henrique, em uma tentativa do zagueiro ganhar bola no alto. Em uma delas, nos acréscimos, o zagueiro desviou, o camisa 11 dividiu no alto e sofreu do adversário uma braçada na cara, dentro da área, só que o juiz não marcou o pênalti e nem foi chamado pelo VAR para revisar o lance.

A partida, então, terminou de forma decepcionante. A arbitragem influenciou bastante no resultado, mas o Flamengo teve muitas dificuldades para furar o forte bloqueio do Cuiabá. A equipe não mostrou tanto repertório, sem buscar finalizações de longe ou jogadas pelo meio, exagerando nas tentativas de cruzamentos, mesmo com um time de baixa estatura. A partida também deixou evidente, mais uma vez, que Andreas Pereira tem que atuar como 2º ou 3º volante, construindo de trás, sem ser o meia-armador, que domina de costas para a zaga.