O Flamengo não vive um bom momento. A equipe tem apenas duas vitórias nos últimos oito jogos, foi eliminada da Copa do Brasil e praticamente não tem mais chances do título Brasileiro. Com isso, o foco agora tem que ser apenas um: a grande final da Libertadores. Caso ganhe a decisão, a temporada está feita. Assim, há tempo para o técnico Renato Gaúcho arrumar o time e, para isso, o Brasileirão precisa ser usado como um preparatório técnico e tático para decisão. O treinador tem 18 dias e 5 partidas para achar soluções à equipe. Essa é a primeira de uma série de matérias com análises do DIÁRIO DO FLA para final da Libertadores.
Opções ao Flamengo não faltam. O time é recheado de jogadores de altíssimo nível. Claro que, para isso, é preciso tê-los à disposição, o que vem sendo um problema recorrente na temporada. A “boa” notícia é que, sem ter mais o foco no Brasileiro, o clube pode ter toda a calma na recuperação dos atletas, sem precisar acelerar algum retorno ou botar alguém que esteja desgastado em campo. É fundamental que nesses jogos Renato Gaúcho poupe os atletas que estiverem sentindo algo, para o Mais Querido poder chegar com todos bem fisicamente na grande final. Então, rodar o elenco será importante no quesito físico, mas também no tático.
O treinador tem que encarar as partidas contra Bahia, São Paulo, Corinthians, Internacional e Sport como momentos para fazer testes e encontrar soluções. Inclusive, o técnico já começou a fazer isso. Desde o jogo contra o Atlético-GO, o Flamengo mudou a forma de marcar as bolas paradas. Antes, o Mais Querido adotava uma marcação individual, algo que é pouquíssimo usado, pois a defesa costuma ficar mais exposta, principalmente contra adversários que preparam jogadas ensaiadas para “anular” os defensores. Renato Gaúcho já sofreu isso contra o próprio rubro-negro no 5 a 0 da Libertadores de 2019 e contra o Abel Ferreira na final da última Copa do Brasil. Não por acaso, o time atual vinha sofrendo bastante no quesito.
Mas, desde o duelo contra o Dragão, o Flamengo passou a adotar uma marcação por zona. Foram apenas dois jogos, só que o Mais Querido não sofreu no quesito no período. Claro que não é de um dia para o outro que muda a forma de marcar a bola parada usada por meses e fica tudo bem. Ainda há ajustes para serem feitos e essas próximas partidas serão fundamentais para o técnico arrumar a defesa. Além disso, não é apenas nesse aspecto que o sistema defensivo precisa evoluir. O time está com problemas na transição defensiva, deixando espaços, o que ficou evidente contra o Athletico e no empate com a Chape. Um dos motivos para isso acontecer é que a equipe não está mais pressionando tanto quando perde a bola, dando liberdade ao adversário para pensar o contra-ataque.
Há outras questões que precisam ser pensadas. Por exemplo, Arrascaeta vai retornar ao time. Teoricamente, Michael é quem volta para o banco. Entretanto, o atacante vem sendo o maior destaque do Flamengo nos últimos jogos. Então, Renato precisa aproveitar para testar formas de montar à equipe. Na próxima partida, por exemplo, Everton Ribeiro está suspenso. Por mais que Michael atue bem melhor pela esquerda e fosse o ideal para o confronto em si, é uma ótima oportunidade para o treinador colocar o ponta na direita, na vaga de ER7, para ver como vai se sair, já projetando o retorno do uruguaio. Isso porque, com Arrasca de volta, não teria espaço para Micha na esquerda, já que o meia faz a dobradinha com Bruno Henrique no setor, enquanto Everton fica na direita.
Caso Michael consiga render bem na direita, pode ser uma opção para a vaga de Everton Ribeiro na final, já que o camisa 7 não vive o melhor momento, enquanto o camisa 19 está “voando”. Outras variações podem ser feitas, em busca da escalação ideal. Além disso, é sempre importante testar alternativas, pois nunca se sabe o que vai acontecer. Tem jogador que pode se lesionar durante a própria partida, algum atleta pode estar em um dia ruim, time pode sair em vantagem ou desvantagem… Ou seja, são muitas variáveis que Renato Gaúcho precisa levar em conta e já pensar para o time estar preparado em qualquer uma delas.
Um exemplo: Andreas Pereira. O belga-brasileiro começou voando no Flamengo, sendo um dos destaques do time. Nos últimos jogos, entretanto, ele caiu bastante de rendimento, mesmo atuando na posição de 2º volante. É fundamental para a dinâmica no meio que Andreas esteja bem na decisão e qualidade ele tem para isso. Entretanto, vai que, por acaso, não está em um bom dia? Vai manter um jogador de uma posição tão crucial indo mal? Claro que não. Então, é fundamental que Renato tenha em mente quem colocar no lugar do jogador. Atualmente, são três opções principais: Thiago Maia, Diego e João Gomes. É importante rodar o time nos próximos jogos e colocá-los, para saber quem botar.
O mesmo vale para outras circunstâncias. Se o time estiver atrás do placar, precisando marcar e com o Palmeiras em retranca, quais alternativas para furar a forte defesa adversária? É preciso treinar as melhores estratégias, não apenas encher o time de atacantes e “seja o que Deus quiser”. Até pode botar vários jogadores de frente, mas é preciso que todos entendam bem o que fazer, ter um plano de jogo. Se botar o Pedro, Michael e Vitinho, junto com Gabigol e Bruno Henrique, por exemplo, os cinco têm que saber exatamente o posicionamento de cada um, assim como o resto da equipe.
Ou seja, é preciso usar bem esses 18 dias e 5 jogos. É um tempo precioso que Renato Gaúcho tem e dá para arrumar a equipe até a final. É fundamental ter os atletas bem fisicamente e com a compreensão tática do que fazer na partida. O treinador e a comissão tem que desde já estudar muito o Palmeiras, para pensar na estratégia que vai fazer na decisão e usar essas partidas como um preparatório, sem atuar com o peso de vencer à qualquer custo, mas sim de melhorar o desempenho, corrigir os erros e achar soluções técnicas e táticas para o Flamengo.